O século é o XXI. A terceira década já se precipita, tendo que amadurecer antes da hora. Nós que trabalhamos com literatura não podemos fugir da questão: Qual o papel de uma editora no mundo contemporâneo? Sim, por suposto e consagrado, produzimos livros, publicamos e distribuímos o máximo que alcançamos. A Taipa é uma editora independente dedicada sobretudo a interagir com escritores e demais artistas em torno do fazer literário, então nosso foco maior sempre será em busca de uma expressividade mais bem acabada, seja ela voltada para prosa ou para poesia, seja motivada por autores já experientes ou iniciantes. Mas e essa tal geração de conteúdo? Como participar dessa dinâmica (e ser relevante) sem cair na superficialidade das redes? Toda velocidade “urgente” há mesmo de se transformar em arte efêmera ou ainda existe espaço-tempo para as boas ideias decantarem, sem pressa?
Fato é que nesses primórdios da Era Digital, vimos a escalada dos blogs, sites, buscadores e agora das frenéticas redes sociais. Todo santo dispositivo promete ser o veículo mais poderoso na ânsia de fazer a informação chegar aos olhos do leitor atônito, já saturado, como se a porta de acesso fosse até mais importante que o próprio recinto. Tenhamos calma. Vamos admirar a sala, sentar-nos um pouco e respirar. Eis que o fio da história começa a virar, hoje em dia tem se tornado muito comum a noção de multiplataformas, quando uma entidade (marca empresarial ou não) é relacionada gradativamente a diversos canais. O que se almeja com o novo espetáculo da não-localidade (inclusive no mundo remoto) é agora a promessa da confiança que essa tal entidade pode atrair, e não mais o benefício tecnocrata apenas do bom, do belo e do barato. As escolhas, para transmissão das mensagens em quais meios específicos, dependem do tipo de mídia, público, momento e profundidade, numa salada quase impalpável de perfis eletrônicos, contas e portais. Dentro desse cenário caótico, uma editora não pode mais se resumir ao objetivo de comunicar somente através do papel. Por outro lado, nada nos leva a pedir divórcio do livro físico. Gostamos dele! Por isso, enquanto construímos memória, nossa função na Taipa é também a de investigar possibilidades.
Digamos que a Era Digital está na sua fase adolescente. Há quem diga que vivemos a Geração da Geração de Conteúdo, talvez similar a um jovem meio confuso, perdido em suas emergências existencialistas. Mas essa geração vai amadurecer. Em breve perceberá que só alimentar os algoritmos e receber likes não será suficiente. A despeito da deturpação do termo, nós da Taipa esperamos que engajamento seja muito mais do que uma simples contenda infantil entre textinho e textão. A literatura sempre acontece nos entremeios, nas falhas e fissuras, lá onde ninguém está sequer preparado para esperar. Boom!
Naturalmente, o excessivo tom publicitário das redes sociais (e das próprias vidas de cada um) acaba emprestando um certo perfume de ressaca, efeito colateral inevitável: ao passo que se tenta convencer alguém a algo, imediatamente vem o rebote que gera reação de desconfiança, ranço, antipatia, caso o “anunciante” em questão não fale o que o “consumidor” quer ouvir. É preciso ter habilidade. Para entrar nesse jogo da superexposição e não esmorecer após a primeira cacetada na canela é fundamental que estejamos fortes! O grito, nunca silenciado, dos contadores de história, dos loucos, dos inquietos, dos inadequados e dos artesãos da poesia, mais do que nunca, precisa ser ecoado mais e mais. Já não importa nem como nem onde a gente vai conseguir tamanha repercussão, mas sabemos que devemos manter o solo fértil, propiciando que novas vozes se juntem ao coro, engrossem o caldo e assim possamos seguir cultivando esse fantástico feitiço que é transformar palavra em sentimento.
Portanto, munidos por esse encantamento perene, nós da Taipa realmente acreditamos que a melhor saída é permanecermos abertos às possibilidades e disponíveis para a troca intensa com aquilo que o mundão não cansa de oferecer.
Além das obras publicadas e da loja virtual onde distribuímos livros para todo território nacional, nosso site apresenta o conceito de interlocução literária, um modelo diferenciado de serviço que se aproxima de forma personalizada dos autores. Mas o vício pela inovação ainda parece pouco! Em vez de procurarmos reforçar então quem somos, decidimos abrir uma extensão da editora para que funcione como uma tribuna e nos permita falar de processos artísticos, circunstâncias gerais e até de fantasmas ao longo da caminhada. Para tanto, temos o Insta, o Face, o YouTube e o blog, que é onde mais podemos tratar esses assuntos todos com o ritmo merecido. Ora, estamos longe de representar a autoridade de uma editora tradicional, tampouco nos interessa a pecha dos prestadores de serviço sob demanda, que se apoiam na falta do compromisso com as ideias propagadas. Desejamos, pois, antes de qualquer coisa, valorizar a produção artística, o pensamento crítico e todo ofício ligado ao mercado editorial.
Dessa maneira, buscando espalhar nossos tentáculos para manifestações diversas associadas ao uso da língua, apostamos em uma dimensão estendida da Taipa, desenvolvida especialmente para caber tudo que consideramos combustível ao fazer literário. Se nascerão pés de escrita criativa ou não-criativa, isso não está em questão. O que nos anima é poder continuar plantando. Nessa extensão da Taipa, portanto, optamos por dividir nossa lavra nas seguintes categorias:
[NÚCLEO] linha interna dedicada a pensar literatura
[ÓRBITA] produção de parceiros da editora
[AUTORAL] divulgação de obras
[SIGNO CRÍTICO] espaço aberto para crônicas e afins
[SIGNO CRIATIVO] incentivo à educação, técnica e meios de se produzir literatura
Principalmente no blog, mas também em outras plataformas, são encontrados textos de variados formatos, estilos e intenções. Programas, colunas, ensaios, entrevistas, postagens avulsas e demais matérias passeiam pelo blog da Taipa e, além disso, servem para fomentar a leitura em vista de um público amplo.
Nossa expectativa de oferecer oportunidade para os escritores e sua lavoura vai ao encontro da sensação teimosa de que sempre há tanto tesouro escondido por aí, muito ainda a ser dito. E só esticando as fronteiras seria possível tal aproximação. Aguardamos o contato de todos! Com as práticas dessa Era Digital manceba, não tem por que acharmos tão difícil trabalhar e publicar os mais diversos projetos em arte literária.
A ideia é que, a partir desse cultivo, pensemos na extensão da Taipa como um auditório sem paredes, onde podemos fomentar colóquios construtivos e um ciclo de debates, estimulando a implementação de oficinas, festivais, cursos, palestras, seminários, lives, podcasts etc... em sintonia com o que há de mais atual na essência de uma editora, sua pluralidade. Porque é preciso ser via e, em cada trecho do percurso, contribuir com a viagem!
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